terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Pensamentos | Um novo Ele

Em meio a luz de uma tarde qualquer, prefiro não tornar nada glamoroso em plena luz do dia,


era uma tarde dessas que terminado o uso do computador desabo no sofá da sala..





Breve decoração, um sofá castanho-avermelhado, na parede a direita, um espelho enorme moldurado, preto laqueado, um quadro, mera cópia, do brilhante Hans Hartung, sempre alegra meu olhar perdido que depara com suas cores azuis, amarelas e traços...muitos traços, como adoro sua delicadeza e ferocidade.





Claro! Uma janela enorme no lado esquerdo como que dizendo, aos bons observadores, meu coração é grande e livre para deixar entrar as brisas da noite e o calor ameno de uma manhã de sol de primavera; vidros tão transparentes que enganam sua existência, e uma vista, ah, que vista!





Vejo um urbano acinzentado e algumas pinceladas de verde que fazem a beleza na atmosfera. Quando é primavera dilata-se o verde, tornando-o predominante, em algumas partes, mudam de cor e ficam preenchidos de rosa, violeta..floreiam.






Ainda na sala, em um canto, gosto de deixar uma luminária que dá o toque de saliência e em algumas noites abraçam minha solidão clareando as páginas de um bom livro.






Nessa atmosfera lembro de uma pessoa em especial...




[pausa para olhar a janela aberta]






- Sua voz acalmava meu dessossego, fazia-me muitas visitas quando seu espetáculo estava na cidade.







Nunca perguntei qual era exatamente seu papel, o que pra mim, pareciam muitos. Não importava, mais sabia de uma coisa, sabia conduzir-me para conhecê-los. Era atrevido, até parecia corajoso, mas isso eu ainda tinha dúvida.






Sobre suas visitas, desde que subindo as escadas já acompanhava-o.






Um perfume excêntrico puxa-me para dentro da sua camisa clara, sentindo a pele hidratada pelo banho tomado horas antes do encontro, conseguia visualizar a cena dele se trocando no quarto, a maneira como escolhia as roupas, sem nenhum segredo, apenas com um pouco de atenção porque sabia que eu gostava de certas cores, as mais claras, ou então, o preto, eu sempre dizia que realçavam sua beleza marcante, pura luxuria para meus sonhos vorazes; escolhendo as roupas, o cabelo ainda molhado do banho, a toalha enrolada na cintura, conseguia sentir a umidade do tecido da toalha que abraçava aquele corpo quente e que evaporava prazer....





Não sei se continuo a dizer mais sobre ele...




[Nova pausa para prestar atenção no pássaro que acabará de passar em sua janela, o qual soou um breve canto, como para despertar delicadamente, alguém que estava em um sono]





Quando ele chega, bate na porta e eu já era o som da porta que ecoava do toque na madeira com o contato da sua mão perspicaz.




Eu dava a ultima inspirada na flor e, que comprara a tarde, um vento bate nos cabelos e move os cachos com a mesma delicadeza que toca em uma flor




Abro a porta, ele sente o vento, meus cachos e toda a leveza que esbanjo




Não damos tempos para o trivial, sabemos o que queremos




Ele entrega a bebida fresca que carregava em uma sacola de papelão junto uma carta, estava celada com cera dourada, era um pingo preciso que no centro marcava sua inicial




Olhos defronte agradeço o carinho




Agora segue até o toca disco e serve-se de um disco de jazz, as taças na mesa de prontidão a espera dos labios ansiosos; toca minha mão à um convite para bailar, sorrio com charme para ser conduzida pelo seu legado, é um exímio dançarino







Ele nunca tinha pressa, mesmo quando era faminto de desejo, o que eu achava uma habilidade notável




Sabia que entregava-me quando fechava os olhos para a música, sabia que ficava embebecida com as notas e que meu corpo falava-se por si só, não tinha controle, era solta, era uma arte abstrata, era uma dança contemporânea, movimentos que expressavam vontades, apenas.




A dança era longa, na verdade, não eramos conduzidos por um tempo, e sim, por ensejo de nossas malicias


Por baixo da roupa, a cinta liga aumentava a temperatura das suas mãos que apertavam minhas coxas prontas para apartar suas dúvidas e que ele adorava suportar esse meu jogo para seduzi-lo. 

Começa a descrever que desprotegeria meu corpo com sua boca, que começaria com a cinta. Primeiro porque como um cão farejador, captaria os perfumes da roupa, da minha pele, do doce que o creme no meu corpo era coberto para que quando nossos corpos estivessem em chamas, derretesse para facilitar nossa agitação espartana

Sempre soube descrever e fazer tudo o que dizia; não era só um exímio dançarino...

[Pensava, eis aí o personagem dessa noite]

Ainda estávamos na sala e no espelho o reflexo de suas descrições 

Depois de tanto bailar, de misturar nossos perfumes, derretermos, 
conseguia manter o melhor de uma mistura química que quando eu estivesse desprotegida da realidade, debruçava em meu colo e ria da minha ingenuidade sexual.

Via-me como uma menina que acabara de sair da escola da irrealidade. Pois sabia que fora ele quem ensinou-me do mundo real, o mundo real do prazer oblíquo.

Nessa mistura que tornava as descrições em fatos, em toque, em gemidos, em desempenho físico, em êxtase, em algo que grudava e não queria mais sair..era esse o prazer que me mostrava sempre modificado por seus novas personagens.

Era algo que eu não queria terminar e não vou...


[Segue até a janela e olha para a porta a espera do novo ele]


































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